Semanalmente, Dona Neusa e outras 10 mulheres, moradoras da comunidade quilombola Santa Cruz, se encontram no Grupo Terapêutico que acontece desde 2018 na sede do Projeto Bem Criar.
“Não falto por nada! Toda semana eu viajava no mesmo dia, agora mudei o dia de minhas viagens para estar no grupo de terapia.” D. Neusa, 60 anos.
Quando o Projeto Bem Criar iniciou, em 2018, todas as atividades eram direcionadas para crianças e adolescentes. A proposta do Grupo Terapêutico foi fruto de trocas entre as mães e avós das crianças atendidas e equipe de educadoras do projeto. As mulheres frequentavam o projeto e perguntavam quando poderíamos oferecer atividades para elas. Já realizávamos atendimentos individuais, então surgiu a ideia de proporcionar um espaço de cuidado coletivo, onde as mulheres pudessem vivenciar práticas terapêuticas, de autoconhecimento e de relacionamento interpessoal.
Ao mesmo tempo a proposta era oferecer atividades que trabalhassem aspectos não contemplados em sua lida diária, como a consciência e a fala sobre seus sentimentos. São mulheres acostumadas ao trabalho braçal: carregam lenha, lavam roupa no rio, buscam esterco nos pastos, cultivam roças e hortas. Mulheres de poucas palavras, cuidadoras das crianças e adolescentes atendidas pelo projeto.
Iniciamos o Grupo Terapêutico com a prática da Terapia Artística, um processo terapêutico realizado por meio da linguagem das artes plásticas que explora em diferentes materiais e técnicas o potencial curativo da arte. Através de atividades artísticas e das trocas entre participantes e terapeuta os conteúdos inconscientes se tornam acessíveis à consciência.
Assim, as mulheres da comunidade quilombola Santa Cruz fizeram uma pausa nas atividades do cotidiano e descobriram cores e variedades de tons, novas texturas e novos instrumentos de trabalho: pincéis, lápis, carvão e diferentes tipos de papel. Enquanto pintavam eram convidadas a estar em silêncio para entrar em contato com suas emoções, perceber o que sentiam ao realizar cada atividade proposta. Estar em silêncio era algo novo. Como disse uma das participantes: “Eu nunca tinha parado pra perceber o quanto o silêncio é bom”.
As participantes relatam que os encontros de terapia artística eram um momento especial, dedicado para si mesmas. São mulheres de vida prática, que até então nunca haviam vivenciado uma atividade artística ou terapêutica. Como disse uma delas: “o serviço de casa não para nunca, precisa ter um momento para parar e se cuidar”. Todas concordam que foi um exercício parar a rotina uma vez por semana e estar presente na atividade, sem pensar nos afazeres domésticos.
Percebemos que apesar de viverem na mesma comunidade, serem vizinhas e até mesmo parentes, estas mulheres não conversavam sobre o que sentiam, seus incômodos, medos, inseguranças, anseios, alegrias e sonhos. Durante a prática de Terapia Artística foi construído um espaço de respeito e confiança, onde as participantes se dispuseram a aprender sobre cuidado e acolher suas próprias fragilidades e as fragilidades das outras participantes.
Com a necessidade de isolamento social, devido a pandemia de Covid-19, os encontros do Grupo Terapêutico foram suspensos em março de 2019. As atividades recomeçaram em 2021 após o decreto municipal que autorizou o retorno das atividades em grupo. Neste novo contexto, após rodas de conversas, percebemos que as mulheres continuavam com muita dificuldade de expor suas questões do dia a dia e expressar seus sentimentos, e não tinham relações de confiança.
Nesta retomada o Grupo Terapêutico trouxe para as mulheres a Biodança, uma prática integrativa e complementar de saúde, que utiliza música, movimentos corporais, voz e vivência de grupo, facilitando os processos terapêuticos a partir do corpo. Nas palavras de Rolando Toro, o criador da Biodança e de sua metodologia: “Biodança é um sistema de integração afetiva, renovação orgânica e reaprendizagem das funções originárias de vida, baseada em vivências induzidas pela dança, pelo canto e por situações de encontro em grupo”.
A prática de Biodança promove vivências que despertam a afetividade, a criatividade, a comunicação, a leveza, e o autocuidado. Desperta cada um a perceber que só a partir da presença do outro é possível conhecer a si mesmo.
No grupo terapêutico cada mulher foi convidada a perceber a leveza, a firmeza e os limites de seu corpo através dos movimentos, foram estimuladas a ouvir e sentir com o coração sua forma de expressão e ação na vida, e a se comunicar através da fala ao compartilhar suas experiências na Biodança. Elas dançaram, cantaram, brincaram e aos poucos começaram a trazer temas que as afetavam emocionalmente em seu dia a dia.
Neste ciclo do grupo com a Biodança as mulheres aprenderam sobre compromisso, o cuidado consigo e com o outro, a perceber a importância do ritmo e da rotina para ter uma vida saudável. Em ressonância com o meio onde vivem, foram convidadas a observar a natureza e a forma como os ciclos naturais influenciam seus processos emocionais.
Mais sensíveis e confiantes, em 2022 as mulheres irão vivenciar mais uma prática complementar: a Terapia Comunitária Integrativa. A Terapia Comunitária é uma prática de cuidado da saúde em grupo, que promove a escuta e a partilha de histórias de vida, acolhendo e ressignificando sentimentos.
Todas as práticas terapêuticas são reconhecidas pelo Ministério da Saúde do Brasil por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares de Saúde (PNPICS), e atuam nos campos da prevenção de agravos e da promoção, manutenção e recuperação da saúde, baseada em um modelo de atenção humanizada e centrada na integralidade do indivíduo.
O Grupo Terapêutico do Projeto Bem Criar acontece em parceria com o projeto Viva PICS e acolhe todas as mulheres da comunidade rural quilombola Santa Cruz e do entorno que estão dispostas a cuidar de sua saúde de forma integral, em um ambiente de acolhimento e confiança.
Em três anos de existência o Grupo Terapêutico se tornou um espaço de referência na comunidade, um dos únicos onde as mulheres se reúnem e se dedicam a uma atividade que não seja laboral ou de cuidado com casa e família. Elas sorriem ao dizer que que pela primeira vez dedicam um tempo para cuidar de si. As participantes reconhecem que os encontros são agradáveis e trazem bem estar. Como disse uma delas: “Eu percebi que quando cheguei aqui eu estava respirando pouco, e agora no fim eu estou conseguindo respirar, estou em paz”.
Desde 2018 promove o desenvolvimento integral, saúde e qualidade de vida para crianças e adolescentes de comunidades quilombolas e rurais do Alto Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais.
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