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Os primeiros anos da criança: o andar, falar e pensar

Esse texto busca apresentar uma reflexão sobre aspectos vinculados ao andar, falar e pensar da criança na perspectiva da Antroposofia. A maneira como estes três marcos são desenvolvidos pela criança nos primeiros anos, interferem no restante do crescimento e nas experiências ao longo da vida.

 

“(…) os três primeiros anos de vida – e, consequentemente, os demais até o sétimo – são de suma importância para o desenvolvimento integral do homem, pois a condição humana da criança é totalmente diversa de uma condição posterior. A criança é de fato, nos primeiros anos, um organismo totalmente sensorial.” (Rudolf Steiner)

 

A criança chega ao mundo totalmente entregue a tudo que o meio apresenta e imita interiormente o que se realiza ao seu redor. A criança pequena acolhe o mundo com uma confiança ilimitada e com um ativo interesse. Podemos dizer que esta é a fase de nossas primeiras impressões, impressões que moldam, ou seja, dão a forma para nosso corpo físico. Além da imitação do que é visto e presenciado por ele, este ser, que acabou de chegar ao mundo, também absorve os pensamentos e sentimentos que vibram no seu entorno. Dessa forma, se torna muito importante a qualidade do ambiente em que a criança vive, especialmente até os sete anos.

 

Segundo Edmond Schoorel, “imitação significa ser movido, e a capacidade de imitar é a capacidade de se deixar dirigir, guiar ou mover. Crianças que imitam se abrem ao seu meio ambiente, plenamente entregues e confiantes. Se mobilizam com tudo o que enxergam, ouvem, sentem e tocam. O mundo interior da criança ressoa com todas as experiências da alma. Crianças pequenas não conseguem distinguir entre o que gostariam de imitar e o que preferencialmente não deveriam imitar.” Assim, por se tratar de uma criança pequena, não há a capacidade de escolha sobre o que imitar ou não. Esta decisão do que vai haver no ambiente, desde o espaço físico, como a organização, a beleza, a estrutura, como também no ambiente anímico, das relações entre as pessoas, dos sentimentos e dos pensamentos, que serão imitados pela criança, cabe a quem recebe essa criança no mundo, ou seja, a nós adultos.

 

Inicialmente, o andar surge, de forma geral, próximo aos 12 meses de vida. Neste momento, existe a vontade de experimentar algo novo, de se colocar em uma posição ereta em relação à gravidade, enfrentando essa força e descobrindo o equilíbrio diante do mundo espacial. É claro que esta vontade não se apresenta de forma consciente e organizada. É uma disposição que vem da própria criança, por isso a importância de a deixarmos livres e sermos auxiliares ou até apenas observadores desta linda descoberta, sem pressioná-la a ficar de pé ou a andar. Aprender a andar significa encontrar as direções espaciais do mundo e nelas empregar o próprio corpo. O andar envolve o movimento do corpo como um todo para realizar esta ação tão desafiadora, e estes gestos vão se afinando e se organizando conforme o mundo vai se apresentando para a criança.

 

A vida primeiramente se manifesta em gestos, e os gestos se transformam interiormente no elemento motor da fala. A partir do momento que a criança anda, sua atividade perceptiva está desperta. Ela conquistou uma parte do mundo espacial exterior.

 

A partir dessa conquista, da orientação no espaço, a criança inicia o desenvolvimento da fala. Sabemos da conexão dos movimentos, dos gestos com sua correspondente região do cérebro e o aspecto motor da fala. Rudolf Steiner reforça esta conexão em sua conferência proferida em 10 de agosto de 1923, na Inglaterra, trazendo que todo o organismo motor da criança se transporta através da misteriosa organização interna do ser humano para a organização da cabeça, manifestando-se na fala.

 

Uma vez que a criança imita, é preciso de um organismo linguístico em seu entorno para desenvolver a fala. Nesta fase é extremamente importante sermos sinceros com a criança, pois é aí que ela aprende sobre verdade e falsidade. Por exemplo, evitar falar de forma infantil com a criança é fundamental, pois em seu inconsciente, a criança quer ouvir algo que corresponda à autêntica linguagem do adulto.

 

Importante ressaltar que a fala não representa um desenvolvimento mental, mas uma força que plasma e configura o mundo em que vivemos. Quando crianças formulam frases com sentido, isso não indica necessariamente que elas mesmas tenham construído esse sentido e, dependendo do momento que a criança está, pode ser mera imitação.

 

Nos primeiros sete anos o desenvolvimento da fala ajuda as crianças a atuarem em toda sua organização corporal e dar-lhe forma. Isso porque, o sistema metabólico, que é composto por barriga e membros, atua na fala ao controlar a expiração. Já o sistema rítmico, composto pelo tórax, atua no expressar do som ou da melodia, e ao confrontar com os efeitos sociais de suas palavras, o sistema neurossensorial, representado pela cabeça, está trabalhando.

 

A partir do desenvolvimento do andar, em um ambiente de respeito e de amor, e do aprendizado da fala, permeado por verdade, temos o ambiente para o surgimento do pensar correto. O pensar que nasce nesta época é um pensar sutil, é “realista” no sentido de apresentar uma ordem no mundo da percepção. O desenvolvimento do pensar precede o pensar mais maduro e estruturado que acontece em torno dos sete anos e que continua se desenvolvendo ao longo da vida.  

 

Assim como no desenvolvimento do andar e do falar, o ambiente também interfere no pensar da criança. Um pensar confuso como, por exemplo, decidir por algo e mudar essa decisão inúmeras vezes, pode ter um impacto negativo nesse crescimento. Logo, um a clareza no pensamento de quem convive com a criança é de fundamental importância.

 

Os processos de andar, falar e pensar, por mais que estejam se desenvolvendo de forma simultânea, apresentam uma interdependência. O desenvolvimento motor traz ordem aos sons da criança. A fala como meio de comunicação estrutura as forças vitais do cérebro e o transforma em um órgão do pensar.

 

Toda criança se desenvolverá melhor se lhe for permitido nascer em seu momento específico e com seu próprio ritmo. Quando é dito nascer, não está se referindo apenas ao nascimento do corpo físico quando chegamos ao mundo, mas também aos outros nascimentos que ocorrem em nossa vida, como o nascimento do andar, do falar e do pensar.

 

A qualidade desses nascimentos é importante, porque é na idade infantil que se encontra o germe de toda a vida humana terrena. Não é apenas o andar, o falar e o pensar que irão nortear seu desenvolvimento futuro, mas estas são faculdades que contribuirão com o restante de toda a sua vida. Assim, o cuidado com esse desenvolvimento inicial dos primeiros anos de vida possibilita ferramentas adequadas para o enfrentamento de desafios futuros de forma mais efetiva. 

 

Dessa maneira, a primeira fase da infância e as primeiras impressões que temos na vida, são fundamentais para nosso desenrolar nas fases que se seguem. Além disso, como adultos, ao observar uma criança, temos uma ótima oportunidade de percebermos que mundo estamos construindo para a criança e para nós mesmos, seres em constante desenvolvimento.

 

Referências:

 

– LIEVEGOED, BERNARD. Desvendando o Crescimento. 4. ed. São Paulo: Antroposófica, 2007

– SCHOOREL, EDMOND. Os primeiros sete anos. 3 .ed. São Paulo: Antroposófica, 2017

– STEINER, RUDOLF. Andar, falar, pensar. 9 .ed. São Paulo: Antroposófica, 2014

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Priscila Sahate.
Priscila Sahate.

Graduada em Administração (UFRJ) e Pós-Graduação em Dinâmica dos Grupos
(SBDG).

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