Em 1946 a Organização mundial de Saúde publicou, em sua constituição, um conceito de saúde que ia além do estado de ausência de doença. Diversas racionalidades médicas milenares já afirmavam que o indivíduo saudável é aquele que está em um estado de bem estar, lidando com as adversidades com presença e buscando compreender o significado dos processos vividos de maneira integral.
Hoje compreendemos que, na construção um estado de viver saudável, é fundamental olharmos para todos aspectos que nos constituem sendo fundamentais os cuidados em Saúde Mental. Os tratamentos convencionais neste campo, que se utilizam de medicamentos e psicoterapia, abordam determinados aspectos do ser humano, mas carecem de um olhar integral para acessar outras faces do ser.
A Medicina Integrativa trabalha a partir de uma abordagem centrada na pessoa, onde a Saúde Mental é cuidada considerando os significados singulares que cada um de nós dá aos processos vividos. Para tanto, é necessário investigar as crenças, os ciclos de vida e seus marcos, levando em conta as relações interpessoais estabelecidas.
As terapias fundamentadas na Antroposofia buscam tratar da vitalidade do indivíduo, considerando processos para além das manifestações físicas. O Aconselhamento Biográfico, por exemplo, resgata vivências e experiências que marcaram a biografia da pessoa, ajudando a observar padrões e a buscar novas formas de estar no mundo.
A troca através da fala permite que o indivíduo se veja dentro do sistema onde está inserido e possa escolher novas atitudes na direção de relações mais saudáveis. E, além das terapias baseadas na fala, cuidados com o corpo, voz e sentidos também favorecem a sedimentação de um estado de bem estar e leveza, mesmo naqueles dias mais estressantes.
Conhecer outras maneiras de reagir aos eventos estressores possibilita outras percepções e sentimentos. A Cantoterapia, a Terapia Artística, práticas corporais como Yoga e Tai Chi Chuan trabalham estes aspectos, que vão para além dos entendimentos racionais que construímos ao longo da vida. As ferramentas para uma abordagem integrativa em Saúde Mental são diversas e podemos buscá-las em fontes milenares, como as Medicinas Ayurvédica e Tradicional Chinesa.
A Medicina Tradicional Chinesa traduz o declínio da saúde mental como desequilíbrio do Qi ou energia vital. O Qi é absorvido através dos alimento e flui, mantendo nossa vitalidade. Se os órgãos responsáveis pela transformação da energia do alimento em energia vital estiverem deficientes, podemos desenvolver sintomas de preocupação excessiva, isolamento ou cansaço sem razão aparente. Por outro lado, se os órgãos responsáveis pela distribuição do Qi no corpo estiverem deficientes, poderemos desenvolver tristeza profunda, voz débil e incapacidade de lidar com perdas.
Para o Ayurveda, estados permanentes de medo de ansiedade alteram a flora intestinal. A Neurociência contemporânea já demonstrou que o intestino grosso é o principal produtor de serotonina, hormônio responsável pela sensação de bem estar. Percebe-se que existem várias leituras para o mesmo processo. A Terapia Ayurvédica também defende que, assim como os impulsos naturais como espirrar, as emoções não sejam reprimidas.
Espaços de livre expressão de emoções, pensamentos e falas são terapêuticos e é por isso que iniciativas como a Biodança e Terapia Comunitária estão destacando-se como terapias efetivas. Estas práticas terapêuticas em grupo são eficazes tanto na promoção de saúde mental como nos cuidados de pessoas em sofrimento mental.
Estes são exemplos de como a Medicina Integrativa trata da Saúde Mental: é um processo multidimensional, que passa pela forma como nos alimentamos, a qualidade dos alimentos, a qualidade do nosso sono e a qualidade das relações que estabelecemos.
Processos terapêuticos que permitam o aprofundamento da história, relações interpessoais e sentimentos do indivíduo contribuem para afiar suas percepções sobre suas próprias habilidades. Desta maneira se aprende a lidar com as adversidades cotidianas, viver e trabalhar com satisfação, contribuindo para o próprio desenvolvimento e o de sua comunidade.
Referências:
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3. SHAH, AK; BECICKA, R; TALEN, MR; EDBERG, D; NAMBOODIRI, S. Integrative Medicine and Mood, Emotions and Mental Health. Prim Care. 2017;44(2):281-304. doi:10.1016/j.pop.2017.02.003
4. VEDOVATO, K.; TREVIZAN, A. R.; ZUCOLOTO, C. N.; BERNARDI, M. D. L.; ZANONI, J. N.; MARTINS, J. V. C. P. O eixo intestino-cérebro e o papel da serotonina. Arq. Ciênc. Saúde Unipar, Umuarama, v. 18 n. 1, p. 33-42, jan./abr. 2014
Médica, formada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL).
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